Um Legado de Ritmo e Tradição
Em 1996, no contexto vibrante da Expo'98, Rui Júnior fundou o Tocá Rufar, um projeto inovador que visava criar um espetáculo de percussão enraizado na rica rítmica tradicional portuguesa e no imponente instrumento do bombo.
Ao longo de quase três décadas, o Tocá Rufar transcendeu a mera performance, tornando-se um catalisador cultural que impulsionou a criação de dezenas de grupos musicais, tanto em Portugal quanto na diáspora portuguesa. Estes grupos, inspirados nas práticas tradicionais dos bombos, difundiram e revitalizaram este património musical único.
Em 2024, um marco histórico foi alcançado: as "Práticas Tradicionais Coletivas do Bombo em Portugal" foram inscritas na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial (PCI) da UNESCO. Esta conquista, resultado de uma candidatura notável e exemplar que envolveu mais de 300 grupos tradicionais e contemporâneos, consagra o bombo como a única prática musical nacional presente em todas as regiões de Portugal e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
O Tocá Rufar, com a sua visão pioneira e compromisso com a preservação e divulgação das tradições musicais portuguesas, desempenhou um papel fundamental nesta conquista, consolidando o seu lugar como um pilar da cultura musical portuguesa.
O Tocá Rufar distingue-se como um projeto modelo de formação artística e cultural, promovendo a percussão tradicional portuguesa e o bombo, ao democratizar o acesso à cultura, conhecimento e arte. A sua missão é impulsionar o bombo como ícone da identidade portuguesa, através da criação de orquestras de percussão tradicional contemporâneas, num modelo organizacional inovador e de impacto social.
O Tocá Rufar, através da sua prática artística inovadora, procura construir e exportar a imagem de um Portugal moderno, criativo e culturalmente rico. Almeja também ser um modelo organizacional inspirador. Na cena cultural portuguesa, o Tocá Rufar assume um papel de intervenção sociocultural, oferecendo alternativas à indústria de entretenimento e promovendo o desenvolvimento pessoal e social. Inscreve-se, assim, em modelos de intervenção que visam fortalecer a sociedade civil, com foco nos seus segmentos mais vulneráveis.
O impacto social do Tocá Rufar é resumido pela visão de Rui Júnior, fundador e diretor, que declarou: "Integrar a Orquestra Tocá Rufar é assumir a responsabilidade de representar a cultura e identidade de Portugal. Exigimos excelência em trabalho, conduta e postura, pois formamos artistas e cidadãos exemplares. Com respeito e admiração, eles demonstrarão iniciativa e responsabilidade para o futuro da sua terra."
O Tocá Rufar valoriza cada membro da Orquestra, reconhecendo o seu potencial, independentemente da idade ou género.
Compondo uma turma única, o grupo composto pelos tocadores do Tocá Rufar reúne e aproxima indivíduos díspares cujos contextos sociais normalmente não se cruzam nem conhecem mas que, enquanto percussionistas adquirem uma posição de equidade. Como membros queridos duma só família partilham afinal um espaço de encontro entre gerações, culturas, experiências de vida, carreiras escolares e académicas, faixas sociais, identidades; onde todos são entendidos e considerados unicamente pela sua entrega, amizade e mérito.
Sob o lema: entrega-te, revela-te, supera-te, o Tocá Rufar provê os seus alunos de uma nova e melhor perspectiva de si próprios e exige-lhes a busca de um equilíbrio justo entre o respeito de uma vontade e ordem comuns e a afirmação de uma identidade individual no seio da comunidade.
Fazendo acção social através da arte, concede-lhes o abrigo das raízes culturais enquanto lhes alarga os horizontes e lhes coloca um futuro prometedor ao alcance, proporcionando a liberdade de definirem o seu próprio limite. E se é verdade que o Tocá Rufar oferece as “ferramentas”, exige esforço, ânimo e espírito de sacrifício ensinando os seus alunos a serem autónomos e tomarem em mãos o seu percurso de vida.
Os tocadores da Orquestra acedem a lugares e contextos que a maior parte dos indivíduos não alcança: tocam ao lado de artistas de renome como seja Buraka Som Sistema, Fafá de Belém, Fausto, Jorge Palma, José Mário Branco, Mickael Carreira, Paulo de Carvalho, Rui Júnior & oÓquesomtem?, Tony Carreira, Xutos & Pontapés, nomeando alguns; representam o país em eventos internacionais como aconteceu em diversas Expos Mundiais ou na Assinatura do Tratado de Lisboa ou no Festival Big Bang na Bélgica; viajam pelo mundo e convivem com gente das mais variadas proveniências. Isto constitui não só um factor de valorização pessoal como também confere uma grande capacidade de entendimento e aceitação.
Além da sua acção directa sobre os alunos o Tocá Rufar tem uma acção indirecta muito abrangente. Os espectáculos do Tocá Rufar e a forma como os tocadores se apresentam e comportam publicamente inspiram milhares de espectadores, não só pela qualidade musical mas pela rectidão, educação, generosidade e simpatia que emanam; constituem um exemplo, desafiam e alimentam o espírito e são um importante estímulo à solidariedade e ao envolvimento ao serviço da comunidade.
Mais de 80% das actuações da Orquestra são oferecidas a promotores de eventos que não têm capacidade financeira para custear o valor real de contratação, sempre que se julgue que os princípios e causas inerentes são justos e de mérito. Para fazer face a estas acções, sem prejuízo para a sustentabilidade do projecto, o Tocá Rufar cobra um valor exigente a quem pode pagar e, indirectamente, reivindica aos mais ricos um papel social educativo e cultural que muitas vezes estes se recusam a assumir.
Atualmente, o Tocá Rufar ensina gratuitamente cerca de 1300 alunos em 53 turmas do 1º Ciclo do Ensino Básico.
A atribuição do estatuto de Projecto de Interesse Cultural pelo Ministério da Cultura desde 1998.
A escolha do mesmo para a representação de Lisboa nas Cidades Educadoras, dado o seu real interesse como experiência educativa (1999). A AICE - Associação Internacional de Cidades Educadoras - agrupa mais de 180 cidades de 26 países ( www.edcities.bcn.es).
O ‘Prémio de Qualidade’ atribuído pelo P.E.M. – Programa Educativo Municipal pelo Instituto da Qualidade no Distrito de Setúbal (2001).
O Projecto recebeu, conjuntamente com o seu Director - Rui Júnior - o Visiting Arts and Calouste Gulbenkian Foundation’s Portuguese Performing Arts Awards (2003).
O Projecto recebeu o troféu da Costa Azul ‘Golfinho de Cristal’, atribuido a entidades ou singulares que se destacaram na promoção turística da Região de Setúbal (2005).